sexta-feira, agosto 12, 2005

Geração Zapping

Noto com desagrado, que me obriga o status quo, a entrar por um caminho que sempre evitei. O caminho do conflito de gerações.
Eu faço parte, e digo-o com algum orgulho de uma geração que alguém de uma forma infeliz, apelidou de geração rasca, o que na altura me levou a insurgir contra tamanha barbaridade. Mas que raio? Estava eu no auge da puberdade a rebentarem-me os primeiros cabelos no peito, farta cabeleira, enfim visual e mística grunge, e vem um gajo chamar-me rasca? Não podia!
Hoje passa-se exactamente o contrário, em relação aos cabelos… Inverteram as posições geográficas…
O romantismo da vida que até então não tinha oposição, hoje debate-se ferozmente com a dura realidade de uma adulta existência. Por tudo isto, e por olhar o mundo, aflige-me esta nova geração de adolescentes que parecem já ter nascido com comandos de TV e de consola nas mãos, como se praticamente fossem extensões dos membros superiores e a extensão do nariz um LCD de 17 ou 20”.
Para além da forma mecanicamente assustadora com que os dedos conjugam duas teclas L/O repetindo novamente o L. Hoje em dia já ninguém ri com os dentes todos, devem ter medo de mostrarem os aparelhos, hoje escreve-se LOL. Ninguém vai. Telefona! Ninguém mandou um piropo. Manda uma mensagem via bluetooth! Ninguém namora. Tem uma amizade colorida! Aquilo que eu vejo nesta geração é uma falta de projectos… Ops! Lá está a adulta existência… de uma forma mais romântica – falta de sonhos! Não sonham, porque vivem na ilusão que tudo é fácil e está á simples distância de um clic. Para ter, para ligar, para mudar! Dah! Acorda! A vida não é assim!
Porra… eu sonhei, enquanto ficava a contemplar o mar, embalando ao som das ondas. Primeira pedra! Já estou a jeito de levar com ela… valeu a pena sonhar? Não doeu muito! Porque enquanto sonhei e enquanto sonho sou feliz, porque tenho esperança, que o sonho comande a vida…
Nunca estive em piloto automático, não sou autómato, tenho consciência crítica e revolta-me ver gente cheia de energia, a desperdiçá-la. O mundo precisa dessa energia para andar no bom caminho.
O facto de se achar que somos contra o sistema não se combate não querendo saber! Não querendo ver! Não pensem que ficam no bote a ver o barco afundar e que nada tem haver com o que se está a passar; podem até estar fora do barco… mas tudo o que estiver à volta também irá ao fundo. Pura lei da física, meus caros! Há que intervir. Samuel Becket dizia algo do género… Tento! Erro! Tento de novo! Erro de novo, erro melhor…
A geração zapping é enfadonha, não tem piada, come morangos com açúcar sem parar!
A geração zapping é amorfa, é fruto de maus pais, mau sistema de ensino, má televisão, má infância…
A geração zapping vai ser adulta e vai sofrer muito, quando vir que o comando avariou… que não se desliga o patrão, que não se muda de canal quando chega o dia 8 para pagar a renda, que não se “saca” comida do emule para o frigorifico.
A alma não pode ser pequena, para que possa valer a pena!
Segunda pedrada… essa de falso moralismo é mesmo de quem está a apontar o comando para a minha cara e a tentar mudar para o canal 18… essa passou longe!

2 comentários:

Péricles disse...

Bolas este é o meu post preferido... e não há maneira de me deixarem comentários

Anónimo disse...

clap clap clap.
Foi ótimo.